Oswaldo ouvira a notícia no rádio. Na cidade e região estava acontecendo uma infestação de escorpiões ameaçando com isso a vida das pessoas. Já havia o registro de dois casos de picada levando uma mulher e uma criança à internação na Santa Casa que, graças a Deus, tinha em estoque o antídoto contra o veneno escorpiano. As autoridades sanitárias, cumprindo seu papel esclarecedor e preventivo, alertavam para que os cidadãos evitassem acumular nos quintais das residências materiais de construção e entulhos, pois estes eram os locais favoritos dos escorpiões. Até então, Oswaldo mantinha-se calmo chegando mesmo a considerar exagerada a notícia da fatídica infestação. Acreditava que todo esse estardalhaço fosse tão somente para que o povo sentisse que estava sendo assistido e amparado pelos nossos homens públicos que, dessa forma, se mostravam preocupados e zelosos para com a população local e da região. ¨Político age assim mesmo¨, concluiu Oswaldo. 

            E manteve esse pensamento até quando viu, no Jornal Nacional, uma reportagem que mostrava uma infinidade de escorpiões de todas as idades tomando integralmente os muros do cemitério da cidade. O cameraman caprichou nos closes e os minúsculos escorpiões pareciam gigantescos e prontos para atacar os seres humanos. Os relatos e as expressões dos moradores da circunvizinhança do local infestado evidenciavam ainda mais a fragilidade e o temor de todos. A partir daí, Oswaldo passou a manifestar irracional e incontrolável temor. Ele simplesmente surtou. Nos dias seguintes foi tomado por uma avassaladora onda em busca da limpeza ao extremo. Retirou todo material nocivo de seu quintal e, para espanto de sua mulher, passou pessoalmente a colocar duas vezes ao dia água sanitária nos ralos dos banheiros e na caixa de gordura onde se encontram as baratas, alimento preferido dos escorpiões.

            Com o passar de uma semana, Oswaldo piorou. Já não dormia mais à noite com medo de ser picado sorrateiramente enquanto na cama. Retirou todos os tapetes da casa temendo pudessem servir como abrigo e esconderijo aos seres peçonhentos. E assim foi vegetando por mais duas semanas. Depois disso, surpreendeu a esposa deixando de dormir ao lado dela, alojando-se num dos quartos da casa onde apenas havia a cama, o guarda-roupa e uma mesa. Achando essa atitude exagerada e inexplicável, sua mulher quis saber dele o porquê de tão drástica medida. Aproximou-se procurando acaricia-lo no que foi violentamente repudiada pelo marido que, com os olhos vermelhos de raiva, bradou:

            - Sai de mim, mulher! Você é perigosa, vade retro, Satanás!

            - Por que, Oswaldo? Que mal lhe fiz?...

            - Por enquanto nenhum, porque estou vigilante. Pensa que não sei que você é do signo de escorpião?...

            No dia seguinte, Oswaldo foi internado às pressas no Clemente Ferreira...

 

cilmarmachado@yahoo.com.br