Dizem os mais novos que velho só serve para viver de recordações. Não discordo, mas noto que o passar dos anos nos presenteia com a imensa capacidade de ver e sentir coisas pela simples observação de algo. Foi o que me aconteceu durante o último carnaval. Passando pela rua Marechal Vasques e contemplando as ruínas em que se encontra o Clube Comercial, vieram-me à mente fatos por mim vividos naquele clube, no início da década de 60. Jovem, 23 anos, ainda verde para as coisas do amor e da vida, no carnaval de 63, conheci minha primeira Colombina. Ela, 18 anos, romântica, mas muito equilibrada e racional. Foram três noites de folia nos salões do Comercial. Após a quarta-feira de cinzas, a decisão de ambos: apesar de nos sentirmos muito atraídos um pelo outro, iriamos dar um tempo. Ela, às voltas com o ingresso numa de nossas faculdades e eu, com minha profissão, que começava a engatinhar. Sentíamo-nos ainda muito verdes para um compromisso mais sério. Naqueles tempos, namorava-se para casar e nós ambos não estávamos prontos para tal. Foi uma despedida sofrida, mas sensata, bem pensada e de comum acordo.

         Passou-se o tempo, firmei-me em minha profissão e conquistei outra ¨Colombina¨, com quem convivo há mais de 45 anos. Não a conheci no carnaval, mas percebi que meus sentimentos com relação a ela eram mais centrados e maduros que os vividos década atrás. No entanto, sempre ficou em minha lembrança aquela primeira experiência sentimental. E hoje, durante o reinado de Momo, não pude deixar de me perguntar: por onde andará aquela menina, a minha musa do carnaval? Teria se formado? Teria se casado ou estaria sem ninguém até hoje?

         São essas gostosas sensações e lembranças que a chamada terceira idade nos proporciona. Com o tempo, você também chegará a isso. Vivendo e aprendendo, não é?...