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Natália, 36 anos, casada, dividia com Bruno as despesas da família. Ele, funcionário de uma multinacional; ela, psicóloga numa escola municipal. Tinham um casal de filhos, Alice e Heitor, de 10 e 8 anos. Eram crianças ativas, sonhadoras e que colecionavam bonecos de seus heróis. Alice, preferia os das histórias infantis. Heitor, os super-heróis dos quadrinhos e da TV. O apego por tais brinquedos se manifestava muito mais à noite, pois durante o dia as crianças se preocupavam com os estudos frequentando uma boa escola da cidade. Enquanto os pais se acomodavam no sofá acompanhando a programação da TV, Alice e Heitor esparramavam os bonecos de seus ídolos pelo tapete da sala e ali brincavam até o sono chegar.
Apesar do apelo dos pais, nem todas as noites as crianças recolhiam os brinquedos na caixa em que estes repousavam durante o dia. Sobrava para Natália tal missão já que Bruno, cansado do trabalho, chegava a dormir no sofá antes mesmo de ir para a cama.
Em mais uma noite rotineira, Natália passou a recolher os bonecos. Contemplativa, começou a se comparar com cada personagem que eles representavam. A Gata Borralheira fez-lhe recordar a infância difícil que tivera. O Homem Aranha lembrou-lhe os ¨pulos¨ que teve que dar para superar a pobreza que enfrentara a época, junto aos seus pais e irmãos. A Cinderela trouxe-lhe à lembrança da juventude, quando conheceu seu príncipe encantando, Bruno. A Mulher Maravilha fê-la sentir-se uma heroína e lutadora, desdobrando-se no trabalho e na assistência à família. O Homem de Pedra lembrou-lhe a persistência que deveria ter para, ao lado do marido, matar um leão por dia, em defesa da sobrevivência da família. Branca de Neve trouxe-lhe o exemplo de doçura e bondade que a harmonia do lar exige no dia-a-dia. ¨Viver é uma arte¨, pensou Natália.
E assim prosseguiu contemplando e recolhendo, um a um, os bonecos das crianças. Ao tomar em suas mãos o Robin, tratou logo de depositá-lo na caixa e rapidamente pegar o Hulk. Não queria se sentir submissa e apagada como o parceiro do Batman e sim, apaixonada e inflamada como o homenzarrão verde.
Foi com tais pensamentos que Natália concluiu o recolhimento dos bonecos esparramados pela sala. Sorriu conformada, na certeza de que tudo se repetiria no dia seguinte numa deliciosa e amorosa rotina ...
