Doralice, 35 anos, apaixonada por futebol. Tarde de domingo, jogo entre Corinthians e Palmeiras, pelo Brasileirão. Frente à TV, torcendo pelos comandados de Fábio Carille, Doralice acompanhou um lance confuso na área palmeirense, no qual os jogadores corinthianos reclamaram veementemente por um pênalti, supostamente sofrido por Wagner Love. Pressionado, o árbitro resolveu apelar pelo VAR, ou seja, consultar os colegas que acompanhavam atentamente o vídeo da peleja.

Foi aí que Doralice se perdeu em longa divagação. Ligara a TV não só para torcer pelo coringão, mas também para fugir de uma ligeira depressão motivada pelo fato de aos 35 anos, já estar desquitada. ¨Ah, se na vida pessoal também pudéssemos apelar pelo VAR e com isso corrigir erros e deslizes?! ¨, pensou. O casamento lhe fora uma escolha infeliz, uma experiência traumática, redundando na inevitável e dolorosa separação. Retrocedendo no tempo, lembrou-se que dois eram os pretendentes ao seu coração. Renato, playboy assumido, filho de pais ricos, um amante dos prazeres da vida e Bruno, sério, classe média, pouco dinheiro e muita vontade de trabalhar e construir a felicidade com suas próprias mãos.

Doralice preferiu a vida fácil e rica que julgara poder viver ao lado de Renato. Ainda hoje, lembra-se do semblante triste e da furtiva lágrima que rolou da face de Bruno ao receber dela a informação de que optara por se casar com seu rival. Silente e triste, Bruno aceitou aquele revés amoroso e saiu de sua vida. Já no primeiro ano de matrimônio, Doralice percebeu com quem se casara. Irresponsável, gastador, inimigo do trabalho, Renato negava-se assumir as responsabilidades de um chefe de família. Não demorou muito e a separação se consumou, deixando feridas e marcas no coração da jovem sonhadora. ¨Ah, se existisse o VAR das coisas do coração, minha vida seria outra, pensou. Voltaria para Bruno, seu verdadeiro amor ...¨

Foi aí que o telefone tocou. Era Bruno. Queria comemorar com ela o gol corinthiano, assinalado pelo próprio Wagner Love sobre seu arquirrival. O jogo foi deixado de lado, a TV desligada e a conversa rolou por mais de uma hora. Doralice queria saber se Bruno tinha outra ou mesmo se casado com alguém. ¨Como ter outra, se você sempre foi meu único e inesquecível amor? ¨, disparou o rapaz. Daí para marcar um encontro pouco tempo demorou. ¨Ah, o Amor é lindo!¨ , pensou Doralice ...