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Cilmar Machado

O VELHINHO DA PRAÇA...

Cilmar Machado no dia 17 de setembro de 2019 às 10:35
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Tarde da última quinta-feira, um calor intenso dominava a cidade. Andando por ela, resolvi dar um pit stop em uma de nossas mais belas Praças, a Coronel Piza. Acomodei-me num dos bancos próximos ao coreto, onde uma acolhedora sombra me aguardava. O tempo foi passando, gente que ia e que vinha, no natural corre-corre do dia-a-dia. Em dado momento, um velhinho com sua bengala, sentou-se ao meu lado. ¨Um contemporâneo¨, pensei. Apesar de seu ar sisudo e contrariado, puxei conversa reclamando do calor dos últimos dias. Respondeu-me com uma única palavra: ¨É ...¨ Pensei que o pretendido papo ali parasse, mas o idoso desandou a falar: ¨Você talvez seja da minha idade e já tenha ouvido alguém qualifica-lo como pessoa da Terceira Idade ou da Idade de Ouro, não é? ¨. Tentando ser simpático concordei, mesmo porque isso já me houvera acontecido e eu nem ligara para tal qualificação. Pigarreando, o velhinho explodiu em cólera: ¨Terceira Idade uma pinoia! Nós somos mesmo velhos, acabados e inúteis! ¨ E, tentando me convencer, continuou: ¨Você já notou como nós, os idosos, somos colocados de escanteio pelos nossos familiares? Muitos daqueles a quem dedicamos nossas vidas nos agridem com frases maldosas, como: ¨Vá jogar bingo, vovô¨, ou ainda ¨Vá dançar forró, velhinho ...¨. Será que eles pensam que não sabemos fazer outras coisas? Que ainda estamos vivos e que temos nossos gostos, manias e preferências tanto quanto os jovens? Isso me revolta, amigo! ¨.

            Tentei acalmar meu companheiro de idade e de banco de jardim, mas foi em vão. Estava possesso, quase colérico. E continuou: ¨Muitos de nossos filhos nos internam em asilos ou mesmo nas chamadas Casas de Repouso, que nada mais são que um asilo de primeira classe. Lá, apesar do carinho dos tratadores e enfermeiros, nos falta o calor humano da família, da nossa família. Vamos minguando pouco a pouco à espera da morte. Conheço muitos internados que sequer recebem a visita de um filho ou qualquer parente. E ainda há gente que diga que estamos vivendo a Idade de Ouro? É triste, amigo. ¨. 

Nem sequer tive tempo para dizer ao revoltado velhinho que não é bem assim, que não criamos filhos para nós e sim para a sociedade, que eles têm o direito de viver a própria vida, de enfrentar os desafios diários, como nós também tivemos com relação aos nossos pais. É a inevitável marcha do tempo que rege a humanidade e por aí vai. Dois jovens enfermeiros se aproximaram de onde estávamos, tomaram o velhinho pelos braços e o repreenderam: ¨Fugiu do asilo outra vez, Gumercindo? Vamos embora, vamos para casa ... ¨.

 

cilmarmachado@yahoo.com.br 

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