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Naquela manhã chuvosa, Estela estava desassossegada. Rolava na cama, onde por mais de uma hora tentava resolver um dilema: perdoar ou não um certo alguém que só o mal lhe fizera. E mal de amor dói muito mais, concluiu ela. Bruno, que conhecera numa balada há exato um ano, com seu ar romântico e envolvente, pouco tempo precisou para conquistar o coração de Estela que, aos 30 anos, apaixonou-se perdidamente por ele.
Em pouco tempo ficaram noivos. A alegria tomou conta de sua alma e tudo lhe parecia caminhar para a felicidade. Seus pais, com grande esforço, uma semana antes do enlace adiantaram boa soma em dinheiro ao casal para a compra dos móveis do futuro lar, a confecção do enxoval e as inevitáveis despesas com a cerimônia religiosa e festa. Confiante, Estela passou o dinheiro para as mãos de Bruno que se prontificou cuidar de tudo. Pobre, Estela! Inexplicavelmente, seu noivo sumiu do mapa. O fato causou-lhe apreensão, bem como aos seus familiares. O que lhe teria acontecido? Ficara doente, viajara a serviço? Por que não deu satisfações? O celular de Bruno só caia na caixa postal. Teria sido raptado? Estaria vivo? Foi um Deus-nos-acuda! A polícia foi acionada. Bruno não morava na mesma cidade que Estela e o endereço que dera sobre seu domicílio era falso.
Um frio percorreu a espinha de Estela, mas não foi necessário muito tempo para saber que caíra no golpe do falso amante. Bruno fugiu com o dinheiro dado pelos pais de sua vítima. A polícia conseguiu levantar sua ficha onde constava mais seis idênticos golpes por ele protagonizados em diversas cidades paulistas. Isso foi o estopim de uma grave depressão que tomou conta de Estela.
Quinze anos se passaram e, dias atrás, Bruno mandou-lhe um zap dizendo-se arrependido e querendo encontrar-se com ela para maiores explicações. Com a recusa, o rapaz digitou palavras de arrependimento, afirmando que errara, que sempre a amara e que desejava ter uma nova chance. Arrematou perguntando se Estela ao menos o perdoaria. Esperaria por uma resposta no dia seguinte, pelo mesmo zap.
E foi assim que Estela amanheceu pensativa e com muitas dúvidas. Mas, agora mais madura e livre da malfadada deprê que a consumiu por anos, ligou para a polícia e dela teve a informação que Bruno estava há dois anos preso na cadeia de Limeira, condenado pelo artigo 171, estelionato.
Um enigmático e amargo sorriso ganhou o rosto de Estela que, tomando o celular, enviou ao mandrião Dom Juan o seguinte recado: ¨Perdoar compete só a Deus. De minha parte, nunca esquecerei o que você me fez. Feliz estada no xilindró, seu malandro! ¨...
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