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Uma das coisas que carrego desde como me senti como gente é a reflexão. Desde o verdor de minha juventude tenho por hábito escrever tudo por que passo ao buscar a solução de conflitos e impasses que todos nós enfrentamos ao nos relacionarmos com o próximo. Dessa forma, ao longo de todos esses anos fui acumulando cadernos e mais cadernos, onde anotava dúvidas e impressões sempre em busca de formas mais humanas e racionais para chegar bem próximo do bem viver. E, apesar de já haver quase atingido a casa dos oitenta anos de vida, esse um sonho até hoje perdura.
É evidente que a forma de encarar os impasses e incertezas da vida em muito por mim foi modificada tornando-se mais ponderada, madura e eficiente. Deixei de anotar problemas e passei a escrever soluções. Não quero dizer com isso que o que aprendi ao decorrer dos anos, seja categórico, pois em muito prezo e respeito a individualidade do ser humano. Cada qual é único no seu pensar e agir e a busca da melhor maneira de conviver com o próximo é indelével e exclusiva. E o melhor: sempre há o que se aprender com o próximo.
Dias desses, uma amiga da chamada 3ª idade, queixou-se de seu marido e companheiro que se transformou com o decorrer dos anos numa pessoa amarga, sumamente pessimista e que só falava em esperar pela morte. Tais queixas são acompanhadas por um sem número de dores físicas e ingestão de incontáveis e variados remédios que, pelo visto, não lhe trazem uma solução definitiva. Eliminada a hipótese de uma profunda depressão, talvez por criação, essa pessoa carregue consigo a triste característica de irremediável e persistente mau-humor. Minha amiga me surpreendeu ao ter encontrado uma solução simples e que muito tem melhorado o astral do maridão: comprou uma cestinha de taquara, enfeitou-a com fitilhos da cor verde, pois sabia que é essa era a cor do Palmeiras, time favorito do seu amado, e propôs a ele o seguinte: toda vez que qualquer um deles tivesse um pensamento pessimista, escreveria o que estava sentindo num papel ( sempre à disposição ao lado) e o colocaria na cestinha. Ao final do dia, cada qual rezaria uma oração a Deus, pedindo pela melhor solução para seu problema e, em seguida, queimaria os papeizinhos que escrevera, prometendo esquecer definitivamente seu conteúdo. Disse-me a amiga, que embora relutante o marido topou a parada e, aos poucos, está se livrando de ser uma pessoa melancólica e amarga. A alegria pela vida gradativamente está retornando àquele lar. Bela sugestão, não?
Escrever os problemas que se enfrenta no dia-a-dia pode ser triste quando eles estão sendo vivenciados, mas divertidos e compensadores quando superados e vencidos pela razão e experiência.
cilmarmachado@yahoo.com.br