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Repórter: Lilian Caramel
Um ano após notar um lixão à céu aberto no bairro do Canjarana, a reportagem retornou ao local e verificou que o problema continua. Além de urubus, mau-cheiro, móveis e resíduos da construção civil, a área das caçambas está com galhos, restos de podas e moscas. Uma trabalhadora rural, que preferiu não se identificar, contou que já viu o asfalto repleto de vermes provenientes das caçambas com carcaças de peixe. Outros moradores estimam que o problema da disposição irregular existe há, pelo menos, dez anos.
Foram contabilizados mais de 15 amontoados de lixo na estrada das caçambas. Com o aumento no número de loteamentos à beira do Rio Dourado, o serviço municipal não tem conseguido coletar todos os resíduos gerados. “Além do trabalho da Prefeitura, vamos ter que educar a população para o destino e separação correta dos materiais com sinalização e reuniões”, diz Wagner Casadei, da ONG S.O.S Nosso Tietê, que mora no local. Em reunião com o ambientalista realizada nesta semana, a Prefeitura Municipal de Guaiçara comprometeu-se a convocar a população para um encontro de educação ambiental. Todos os moradores do Canjarana serão convidados a participar. A data será divulgada em breve.
A reportagem solicitou, sem sucesso, entrevista com o secretário de meio ambiente, Vinicius Martuchi, e com o prefeito, Bruno Floriano. A Prefeitura optou por pronunciar-se por meio de nota. “A Prefeitura Municipal de Guaiçara, através da Secretaria de Meio Ambiente, informa que várias ações já foram tomadas para tentar amenizar o problema. Foi disponibilizada mais uma caçamba para armazenar o lixo, aumentou a coleta para duas vezes por semana e fez ação de conscientização com carro de som nos condomínios. Em breve, estaremos introduzindo a coleta seletiva no bairro, além de uma reunião com os moradores e condôminos para elaborar uma ação de conscientização da população para que esta faça sua parte”, diz o comunicado oficial.
O Plano Municipal de Gerenciamento de Resíduos Sólidos, de 2014, não contempla ações envolvendo o lixo do Canjarana e nem menciona o bairro rural. A Prefeitura não informou se a política foi atualizada ou se a cidade possui Conselho Municipal de Saneamento Básico em funcionamento, fiscalizando a área. Também não informou porque não cumpriu o prazo do novo marco legal do saneamento, de 2020, que estabelece a data de 2 de agosto de 2024 como limite para que todas as Prefeituras do Brasil eliminem seus lixões a céu aberto. Entidades do setor informam que o país ainda possui 3 mil lixões deste tipo que podem estar contaminando o solo e aquíferos.
A reportagem apurou no Portal da Transparência que o lixo gerado pelos guaiçarenses é encaminhado para um aterro a mais de 100 km de distância, em Piratininga, unidade da Estre Ambiental, sediada em São Paulo (SP). Conforme os dados públicos, a Prefeitura liquidou e pagou quase R$ 176 mil apenas neste ano para coleta e destinação dos resíduos ao aterro licenciado pela Cetesb. No ano passado, a reportagem avistou um casal de catadores do Canjarana revirando as caçambas cheias em busca de recicláveis sem luvas ou qualquer tipo de EPI. Os dois catadores não quiseram falar sobre o assunto, na ocasião.