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Cilmar Machado

O NATAL DE HAROLDO ...

Cilmar Machado no dia 10 de dezembro de 2019 às 08:25
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Aquele Natal seria o mais triste em sua vida. A iluminada árvore natalina parecia perder seus significado e brilho. De cama, Dona Josefa, mãe de Haroldo, enfrentava as consequências de um malfadado mal de Alzheimer. Inerte, olhar vazio no infinito, não era nem sombra daquela que fora uma mulher dinâmica e ativa. Professora, criara Haroldo e tantos outros alunos, no caminho da retidão e dos bons costumes. E agora, sequer consciência tinha de seu lamentável estado físico e mental. Sentia-se a mercê do filho querido, que já não mais chamava pelo nome, pois não se lembrava dele.

            Vendo a mãe nesse estado triste e lastimável, Haroldo, veterinário respeitado na cidade onde viviam, não pode deixar de pensar que o ser humano e os lobos têm muitas semelhanças e uma única diferença: quando sente a velhice chegar, o corpo esmorecer, o cheiro da morte exalar, o lobo entra nas matas para esperar sozinho o seu fim; já o homem, quanto mais sente que a morte se aproxima, mais busca companhia, mesmo que com isso se aborreça ou venha dar trabalho aos que lhe são próximos e queridos. E ali estava sua mãezinha, distante e vazia ...

            Haroldo também se lembrou que Josefa, até há pouco tempo, tinha um diário pessoal, cujo conteúdo mantinha a sete chaves. Bateu curiosidade! Agora, o diário estava à sua disposição, bem no fundo da gaveta da escrivaninha que sua mãe ocupara até antes do Alzheimer se agravar. Folheou suas páginas que, em sua maioria, falavam da alegria de Josefa em ser mãe, professora e ter um filho honrado e trabalhador. Nada dizia sobre o pai de Haroldo, falecido precocemente logo nos primeiros anos de vida conjugal. O filho foi folheando as diversas páginas do diário, saboreando cada palavra e, ao chegar quase ao final, percebeu uma escrita feita há um ano, que o levou às lágrimas ao ler:

¨Sinto que a memória me trai, já não me lembro de pessoas e fatos que jamais esqueci. Fui diagnosticada com o mal de Alzheimer. Antes que o sentido me fuja totalmente, quero deixar minha mensagem àquele que irá cuidar de mim:

¨Filho querido, no dia em que não puder ir mais até você, não se esqueça de vir até mim.

Se um dia eu não puder lembrar seu nome, venha me lembrar de quem você é.

Se um dia eu não puder mais expressar meu orgulho e amor por você, apenas sinta que em minha alma nada disso se perdeu.

Você continua e sempre continuará sendo parte importante da minha vida. ¨...

 

cilmarmachado@yahoo.com.br

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